Por Priscila Machado

No mês da mulher, nada mais encantador do que falar da saúde da mulher atleta.
Com muitos mitos que envolvem a relação peso e desempenho, muitas meninas e mulheres se veem sob pressão para seguir restrições alimentares severas.
O grande fato é que importantes restrições de caloria impactam não só o metabolismo energético: limitam a ingestão de alimentos, fontes de micronutrientes fundamentais para a manutenção dos refinados processos do corpo.
A negligência em comer dietas balanceadas tanto nos macro (proteínas, carboidratos e gorduras) quanto nos micronutrientes (fitoquimicos, vitaminas e minerais) está associada à chamada Tríade da Mulher Atletas.
Esta situação envolve três condições inter-relacionadas: alimentação desordenada (uma variedade de comportamentos nutricionais inadequados), amenorréia (períodos menstruais irregulares ou ausentes) e osteoporose (baixa massa óssea e deterioração da microarquitetura, o que leva a ossos fracos e risco de fratura).

1. Transtornos ou Distúrbios Alimentares:
Em resposta à pressão para perder peso, mulheres e meninas podem adotar práticas não saudáveis de métodos para o controle de peso, incluindo restrição severa da ingestão alimentar, vômito autoinduzido (bulimia), consumo de medicamentos ou suplementos para emagrecer, para suprimir o apetite, laxantes e diuréticos. Muitas atletas não percebem que estão doentes ou escondem seus transtornos alimentares devido ao constrangimento e até mesmo vergonha. Mas o fato é que se isso estiver acontecendo, precisam de ajuda de equipe multidisciplinar. Precisam de dieta correta, ajuda com a organização da rotina alimentar, suplementação adequada para repor as deficiências e perdas aumentadas em função do treino. Precisam de apoio psicológico e intervenção médica.
Alguns sinais que podem indicar que você tem algum distúrbio alimentar:
• Magreza excessiva ou perda rápida de peso;
• Preocupação constante com peso, comida e rituais das refeições e descontentamento permanente com imagem corporal;
• Evitar refeições em equipe ou comer em segredo;
• Amplas flutuações de peso;
• Exercícios vigorosos diários, além das sessões regulares de treinamento;
• Fraturas por estresse (ou seja, microfraturas de ossos que podem progredir para completar fraturas);
• Amarelecimento da pele;
• Pelos de bebê macios na pele;
• Dor de garganta frequente, apesar de nenhum outro sinal de doença respiratória. O que pode estar associado ao vômito autoinduzido;
• Muitas cáries e erosões dentárias e / ou mau hálito (vômito autoinduzido);
• Fadiga ou tontura ou quedas importantes de energia;
• Depressão ou baixa autoestima.
Os transtornos alimentares são graves e muitas vezes crônicos. Indivíduos com anorexia crônica não tratada ou bulimia podem morrer prematuramente do coração, distúrbios de eletrólitos do sangue (ou seja, sal), desnutrição grave etc. Tem tratamento e ele pode ser eficaz.

2. Alterações do ciclo menstrual – hormonal:
Uma dieta desequilibrada, ingestão calórica não compatível com o gasto e exigência do esforço predispõe a anormalidades hormonais. Isto afeta sobretudo o ciclo menstrual. A menarca geralmente deve ocorrer lá pelos 12, 13 anos e, se não ocorrer até os 16 anos, deve ser vista mais atentamente pelo ginecologista esportivo. Outro ponto são ciclos muito longos e superiores a 35 dias. Antes de atribuir anormalidades menstruais para exercícios, obviamente condições como gravidez, anormalidades em órgãos reprodutivos e distúrbios endócrinos devem ser descartados.

3. OSTEOPOROSE:
Aqui temos um ponto bem importante. Na adolescência temos a maior fixação de cálcio no osso e aumento da densidade mineral óssea. É a época em que devemos estar mais atentos com a nutrição das atletas. É fundamental a ingestão de micronutrientes como magnésio, boro, silício, colágeno, aminoácidos, vitamina K, A e D, além do famoso cálcio. Sem dúvida alguma, a ingestão de cálcio é uma das mais importantes e deve ser avaliada com cuidado. Contudo, para sua absorção ser eficaz, temos de adequar a ingestão de vitamina D.
A osteoporose se refere à baixa massa óssea e fragilidade do esqueleto. Temos uma genética forte envolvida com maior propensão a alterações ósseas e ao metabolismo. Mas, interessantemente, baixos níveis de estrógenos estão no cerne desta questão. E como a nutrição inadequada impacta a saúde hormonal, desta forma, alterações nutricionais favorecem desequilíbrios importantes nos hormônios e maior propensão à baixa densidade mineral óssea. Uma mulher de 20 anos em amenorréia (sem menstruação) durante sua adolescência, compromete a integridade do osso, predispondo-a a fraturas por estresse e fraturas mais tarde na vida. Micronutrição adequada promove uma boa formação óssea. A ingestão de cálcio para adolescentes e jovens mulheres com menstruação normal é de 1.200 mg por dia. Já para mulheres com a menstruação irregular ou ausente deve ser de 1.500 mg de cálcio e de 400 a 2000 UI de vitamina D por dia.

PREVENÇÃO E TRATAMENTO:
Embora indivíduos com transtornos nutricionais possam negar problemas com a alimentação e nutrição e relutem muitas vezes em procurar atendimento, o atendimento médico é obrigatório. Um atleta deve ser lembrado de que cuidados médicos e nutrição adequada podem melhorar o desempenho.
E para concluir, trago as palavras “alimentação” e “nutrição” com sentidos diferentes. Precisamos refletir sobre isso se quisermos ter mais desempenho e saúde. Alimento pode ser um legume, uma fruta, feijão, mas também um shake, uma bebida esportiva, um salgadinho colorido cheio de corantes e péssimo para saúde, bolachas ultraprocessadas…
Nutrição é dar ao corpo as ferramentas certas para ele se desenvolver e executar todas as suas funções. E a melhor forma de fazer isso é oferecermos alimentos vivos, cheios de vida e cor. Misturar tipos de alimentos e oferecê-los ao longo do dia, em função da individualidade de cada um é o segredo. E se tudo isso não comtemplar a nutrição celular adequada, aí sim, partimos para a customização de vitaminas, minerais, nutracêuticos e fitoquímicos.

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Priscila Machado é Nutricionista especialista em Nutrição Esportiva, Farmacêutica e Biotecnóloga. Mestre em Nutrição Humana. Pós-graduada em Fitoterapia e em Nutrição Ortomolecular. Possui mais de 15 anos de experiência no atendimento nutricional de atletas amadores e profissionais e é a Nutricionista voluntária da Confederação.

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